[ABC do Anarquismo - Alexander Berkman] VII. A igreja e a escola #MDAAB-07

Sim, meu amigo, sempre foi assim. Quer dizer, a lei e o governo sempre estiveram do lado dos senhores. Os ricos e poderosos sempre o enganaram com base na "vontade de Deus", com a ajuda da Igreja e da escola.

Mas isso precisa sempre permanecer assim? Nos tempos antigos, quando as pessoas eram escravas de algum tirano, czar ou outro autocrata, a Igreja (de qualquer religião ou denominação) ensinava que a escravidão existia pela "vontade de Deus", que era boa e necessária, que não poderia ser de outra forma, e que qualquer um que fosse contra estaria indo contra a vontade de Deus e era um incrédulo, um herege, um blasfemo e um pecador.

A escola ensinava que isso era bom e justo, que o tirano governava "pela graça de Deus", que sua autoridade não poderia ser questionada, e que era preciso servi-lo e obedecê-lo.

As pessoas acreditavam nisso e permaneciam escravas. Mas gradualmente, alguns homens começaram a perceber que a escravidão era má, que não era justo que um homem dominasse todo um povo e fosse senhor e mestre de suas vidas e trabalhos. Eles foram até o povo e disseram o que pensavam.

Então, o governo do tirano se voltou contra esses homens. Eles foram acusados de quebrar as leis do país, foram chamados de agitadores da paz pública, criminosos e inimigos do povo. Foram mortos, e a Igreja e a escola disseram que estava certo, que mereciam a morte como rebeldes contra as leis de Deus e dos homens. E os escravos acreditaram nisso.

Mas a verdade não pode ser suprimida para sempre. Gradualmente, mais e mais pessoas vieram a perceber que os "agitadores" que haviam sido mortos estavam certos. Eles chegaram a entender que a escravidão era injusta e má para eles, e seu número continuou a crescer. O tirano promulgou leis rigorosas para suprimi-los; seu governo fez o possível para detê-los e frustrar seus "planos malignos". A Igreja e a escola denunciaram esses homens. Eles foram perseguidos, assediados e executados à maneira daqueles dias. Às vezes, eles eram crucificados em grandes cruzes, ou tinham suas cabeças cortadas com um machado. Outras vezes, eram estrangulados, queimados em postes, esquartejados ou amarrados a cavalos e despedaçados lentamente.

A Igreja, a escola e a lei fizeram isso; muitas vezes, até as multidões enganadas em diferentes países. E nos museus atuais, você ainda pode ver os instrumentos de tortura e morte que eram usados para punir aqueles que tentavam dizer a verdade ao povo.

No entanto, apesar da tortura e da morte, apesar da lei e do governo, apesar da Igreja e da escola, a escravidão foi finalmente abolida, embora as pessoas insistissem que "sempre foi assim e deve permanecer assim".

Mais tarde, nos dias da servidão, quando os nobres governavam sobre as pessoas comuns, a Igreja e a escola estavam novamente ao lado dos governantes e dos ricos. Mais uma vez, ameaçaram o povo com a ira divina se ousassem se rebelar e se recusar a obedecer a seus senhores e governantes. Mais uma vez, lançaram suas maldições sobre as cabeças dos "perturbadores" e hereges que desafiavam a lei e pregavam o evangelho de maior liberdade e bem-estar. Novamente, esses "inimigos do povo" foram perseguidos, assediados e mortos. Mas chegou o dia em que a servidão foi abolida.

A servidão foi substituída pelo capitalismo, com sua escravidão assalariada, e novamente encontramos a Igreja e a escola ao lado do senhor e do governante. Novamente, eles trovejam contra os "hereges", os incrédulos que desejam que o povo seja livre e feliz. Novamente, a Igreja e a escola lhe pregam a "vontade de Deus"; o capitalismo é bom e necessário, dizem a você; você deve ser obediente aos seus senhores, pois "é a vontade de Deus" que haja ricos e pobres, e quem se opõe a isso é um pecador, um não conformista, um anarquista.

Assim, você vê que a Igreja e a escola ainda estão do lado dos senhores contra seus escravos, exatamente como no passado. Como o leopardo, eles podem mudar suas manchas, mas nunca sua natureza. A Igreja e a escola ainda se alinham com o rico contra o pobre, com o poderoso contra suas vítimas, com "a lei e a ordem" contra a liberdade e a justiça.

Agora, como antes, eles ensinam o povo a respeitar e obedecer a seus senhores. Quando o tirano era um rei, a Igreja e a escola ensinavam respeito e obediência à "lei e à ordem" do rei. Quando a realeza foi abolida e a república foi instituída, a Igreja e a escola ensinavam respeito e obediência à "lei e à ordem" republicanas. Obedecer! Esse é o grito eterno da Igreja e da escola, não importa quão vil seja o tirano, não importa o quão opressiva e injusta seja "a lei e a ordem".

Obedecer! Pois se você deixasse de obedecer à autoridade, poderia começar a pensar por si mesmo. Isso seria o mais perigoso para "a lei e a ordem", a maior desgraça para a Igreja e a escola. Pois então você descobriria que tudo o que eles lhe ensinaram era mentira, e que eles o faziam apenas para mantê-lo escravizado, mental e fisicamente, para que você continuasse a trabalhar, a sofrer e a se manter em silêncio.

Um despertar desse tipo de sua parte seria, com certeza, a maior calamidade para a Igreja e a escola, para o Mestre e o Governante.

Mas se você chegou até aqui comigo, se começou a pensar por si mesmo agora, se compreende que o capitalismo está roubando de você e que o governo, com sua "lei e ordem", está lá para ajudar a fazer isso com você, se percebe que todas as instituições religiosas e educacionais servem apenas para enganá-lo e mantê-lo na escravidão, então você pode se sentir justamente ofendido e gritar: "Não há justiça no mundo?"

← VI. A guerra | VIII. A justiça →